“Há muitas famílias que dependiam do Rio Doce, que viviam daqui e agora não temos nada”. A frustração de Maria Aparecida Gonçalves, moradora de Baixo Guandu é a mesma dos mais de 80 homens e mulheres que tiravam sua subsistência do Rio Doce, por meio da extração de areia do local. No entanto, após o rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, só restaram dúvidas.
“Não há emprego, o Rio Doce morreu e os carroceiros não podem mais retirar a areia e a situação financeira das pessoas é muito ruim. Tem gente vivendo de bico, de favor e tentando, a todo custo, que a Renova reconheça que fomos atingidos e libere a indenização”, afirma Maria Aparecida, que é esposa de um carroceiro e secretária da Associação dos Velhos Carroceiros Extratores de Areia (Avec).
Maria Aparecida e cerca de 80 pessoas que viviam da extração da areia do Rio Doce estão sendo acompanhados pela Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo. A Instituição reuniu-se com o grupo no último dia 09 de julho para coletar documentos, fotos e depoimentos acerca da situação das famílias que pleiteiam indenização e auxílio financeiro da Fundação Renova.
De acordo com Rafael Mello Portella, defensor público que acompanha os carroceiros, o quadro é alarmante. “Trata-se de uma categoria há muito tempo reconhecida. O fato de serem pessoas muito humildes já deveria ter indicado uma prioridade de tratamento. Passados quase quatro anos ainda nos surpreendemos com grupos como este que estão à margem do processo indenizatório”, ressalta o defensor.
Além dos carroceiros, a Defensoria Pública, atualmente, desenvolve atendimentos específicos para as artesãs e lavadeiras de Baixo Guandu, que também encontram muitas dificuldades para serem reconhecidas como atingidas e receberem a indenização e auxílio financeiro.