Quatro anos depois do desastre do Rio Doce atingidos ainda lutam por direitos

Mais de 100 mil pessoas afetadas, cerca de 49 mil somente no Espírito Santo, segundo estimativa do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia da Defensoria Pública Estadual. Quatro anos depois do desastre que marcou para sempre a Bacia do Rio Doce, pouco mudou para a população atingida pela lama.

Em 5 de novembro de 2015, após o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, a vida de milhares de pessoas rio afora foi prejudicada, como a da pescadora Eliane Balke. Moradora de São Mateus, Eliane herdou a pesca da família. Filha e neta de pescadores, ela viu a vida mudar drasticamente depois do desastre.

“Perdemos a qualidade da água e desenvolvi diversos problemas psicológicos, como crise ansiedade. Tenho pesadelo até hoje com peixes morrendo e a lama chegando”, afirma a pescadora.

O primeiro contato de Eliane com a Defensoria Pública do Espírito Santo foi em novembro de 2015, em uma audiência pública em Regência. Na ocasião, dos defensores públicos orientaram as comunidades atingidas para que se organizassem e buscassem reconhecimento dos prejuízos causados pela lama. “Com ajuda da Defensoria nos organizarmos melhor e criamos, em setembro de 2016, o Fórum Norte da Foz do Rio Doce, formado por 12 comunidades afetadas”.

O reconhecimento de São Mateus, município de Eliane e sua família, veio após atuação integradas da Defensoria Pública e população atingida. Desde o início do desastre, segundo o coordenador do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia, Rafael Portella, a Instituição trabalha pelo devido reconhecimento de pessoas e territórios atingidos na região capixaba.

“Os municípios de Conceição da Barra, São Mateus, Linhares, Aracruz, Fundão e Serra foram reconhecidos e atualmente recebem os programas da Fundação Renova. No marco de quatro anos, discute-se processos reparatórios com os camaroeiros de Vitoria e Conceição da Barra, o que demonstra a extensão do dano no Estado”, avalia Portella.

Segundo Eliane, as comunidades, ao lado da Defensoria Pública, lutam por água potável e garantia de acesso à saúde. “Conseguimos, em março de 2017, que essas áreas fossem reconhecidas como atingidas e temos um plano de ação municipal para cobrar dos responsáveis que as medidas sejam tomadas para diminuir os danos causados”.

Portella afirma que, apesar da intervenção da Defensoria Pública e das muitas negociações e pactos firmados, a Fundação Renova, criada para administrar os recursos de reparação aos atingidos, tem uma atuação irregular e muito aquém do que é esperado na administração e uma crise dessa proporção.

Os números do desastre

101.900 pessoas foram cadastradas como atingidas pelo desastre, destas 49.208 estão no Espírito Santo e 45.692 estão em Minas Gerais.

25.291 pessoas ainda esperam por cadastro, sendo 14.007 no Espírito Santo e 11.284 em Minas Gerais.

13.690 é o número de titulares dos cartões que dão acesso ao auxílio financeiro, sendo 6.386 no Espírito Santo e 7.304 em Minas Gerais.

15.067 pessoas ingressaram no programa de indenização mediana, sendo 6.642 no Espírito Santo e 8.425 em Minas Gerais.

9.438 pessoas efetivamente receberam indenizações por parte da Renova, sendo 4.554 no Espírito Santo e 4.884 em Minas Gerais.

Fonte: Estimativa da Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo